Em 24 de dezembro, muitas companhias já começam a ensaiar. Depois, no dia 1º de janeiro, os foliões se reúnem bem cedo para rezar o terço antes de sair em peregrinação com a bandeira que louva os Santos Reis. Muitas andam quilômetros nos seis dias de festa, parando para descansar por volta da meia-noite.
De roça em roça, visitam todas as casas que há pelo caminho sem pular nenhuma, seja rica ou a mais humilde choupana. Afinal, toda família é sagrada e o objetivo da festa é reverenciar a Sagrada Família.
No caminho, se emocionam com a própria fé e a fé das pessoas visitadas. E se divertem muito. Mas, melhor do que a boa comida e as cantorias, melhor que as cachaças que se consome pelo caminho junto com as risadas, melhor até mesmo que os testemunhos de fé, inclusive dos milagres, é que na Folia de Reis não se faz distinção de classe. Assim pensa Bolívar: “a parte mais deliciosa é que todo mundo é igual”, ele diz.
Uma companhia que se preza nunca pula uma casa, sem se importar se a esmola ali será gorda ou magra. A parte mais importante é a devoção e o amor ao próximo que existe em cada lar.
Santos Reis, afinal, simbolizam a união em torno do amor: representando toda a humanidade, um era negro, outro amarelo e outro branco. Conta-se que os três não se conheciam, viviam em nações diferentes. Quando viram uma estrela brilhar incandescente e tão diferente do normal, souberam que era o sinal profetizado de que o filho de Deus estava pra nascer. Cada um saiu de sua terra e seguiu a estrela, até se encontrar com os outros dois, no meio do caminho. Depois de adorar o menino Jesus, ficaram tão arrebatados que resolveram ir de casa em casa, anunciando a boa nova.
Uma história que as companhias procuram reproduzir todos os anos.
Este texto é parte do livro 'As incríveis aventuras de Bolívar', de Flávia Lima
Foto de detalhe da festa em Santo Antonio da Alegria (por Andrea Goldschmidt - www.festasbrasileiras.com.br)